Klabin (Parte 2)
Olá, meus queridos e queridas, sejam mais uma vez bem-vindos à edição especial desta newsletter, hoje escrevo a segunda parte dessa emblemática aventura empresarial familiar que começou com os imigrantes Mauricio e Wolff Klabin .
Se você ainda não leu o primeiro artigo completo ondes descobrimos as origens desse legado empreendedor e pioneiro na indústria brasileira de papel, aconselho a acessar aqui.
A crise capitalista de 1929, que fulminou o velho modelo primário-exportador brasileiro, já se configurava no horizonte.
Ela trará tempos difíceis para o país, mas, também, formidáveis oportunidades de negócios, como as identificadas e aproveitadas pela Klabin.
Horácio e Wolf foram assumindo a liderança da KIC, que consolidaram na década de 1930, com as suas iniciativas.
A parceria foi tanto empresarial quanto política, pois, na sua secunda trajetória pública – de deputado federal por São Paulo e ministro –, Horácio teve em Wolff não apenas um conselheiro, mas um articulador.
A condição de sócio-gerente aos 37 anos coincide com a plena afirmação da personalidade do self-made man Wolff.
Agora em novo patamar e com novas funções, sua vocação empresarial, visão de futuro e seus bons contatos políticos e sociais terão maior peso nas decisões de negócio da família. Atuando em simbiose com o primo Horácio Lafer, ele exercerá influência cada vez maior.
Em setembro de 1931, a companhia dá um passo enorme e diferente em suas atividades industriais, até então concentradas no ramo papeleiro, em São Paulo.
Por insistência do intuitivo Wolff, ela assume a Manufatura Nacional de Porcelanas S.A., no bairro Del Castilho, Zona Norte do Rio de Janeiro. Uma unidade plantada em área de 320 mil metros quadrados.
Parecia ter tudo para dar errado. A empresa vinha de longa série de prejuízos operacionais. No ano anterior, a receita total pouco passara de metade da despesa. Estava excessivamente endividada.
Era a mais antiga fábrica de azulejos do Brasil. Operava desde 1923. Foi fundada pelo Visconde de Moraes, presidente do Banco Português do Brasil.
Wolff sabia que era possível implantar gestão competente e inovadora. Dar um choque tecnológico. Desenvolver e executar projeto de ampliação, diversificação e modernização. E que podia confiar numa evolução favorável do mercado interno.
A demanda de material de construção era crescente, devido à prioridade e empenho do governo Vargas para a redução do vasto déficit habitacional do país. Havia expectativa de forte impulso ao setor.
Mais ainda: a capacidade para importar do Brasil era ínfima desde a emergência da Crise de 1929, prejudicando ou mesmo inviabilizando o produto importado.
Quadro favorável a bons projetos de substituição de importações, como os do ramo de azulejos, de porcelanas e congêneres.
Em suma, Wolff e seus sócios concluíram que haviam descoberto um grande negócio. E eles estavam certos.
O principal da obsoleta indústria do visconde eram travessas de louça, isoladores elétricos, ladrilhos e azulejos. Tudo de baixa qualidade, fabricação semiartesanal, com uso de máquinas obsoletas. Produtos muito inferiores aos importados.
A precariedade apareceu já na própria negociação: o visconde espremeu todas as ações dentro de uma lata de biscoitos, tampou-a e mandou entregar a Wolff com o seguinte bilhete: “Toma lá, seu Klabin, que esse assunto vai passar a ser seu”