Klabin (Parte 1 ): De Mauricio para Wolff
Descubra as Raízes da Jornada Empresarial: A Transição de Maurício para Wolff na Saga Klabin
Olá meus queridos e queridas, sejam mais uma vez bem-vindos à edição especial desta newsletter, que chega hoje para 1600 assinantes.
Nem nos meus melhores sonhos eu imaginaria que tanta gente iria acompanhar o que eu escrevo e se interessar tanto pelos mesmos assuntos que eu adoro partilhar aqui. O meu muito obrigado a vocês pela audiência.
Hoje vou compartilhar os meus apontamentos de um livro incrível e que ainda nem terminei de ler mas tem ocupado o meu tempo ultimamente. (A Saga da Família Klabin Lafer, por Ronaldo Costa).
Como muitos de vocês sabem, eu adoro todos os detalhes históricos de sagas sobre empreendedores, mas colocar aqui os mais de 100 anos desta empresa familiar seria quase um minilivro.
Por isso, fiquem com a primeira parte que fala da origem dos personagens principais desta empreitada.
Espero que gostem, e não esqueçam de compartilhar, curtir e comentar. Isso sempre ajuda a motivar o lado criador do vosso amigo snowballer.
A empresa Klabin S.A. não pode ser estudada sem levarmos em consideração a história da vinda da família Klabin, seus fundadores, ao Brasil no final do século XIX.
Perseguido na Europa, Maurício Klabin chegou ao Brasil encontrando um país muito pouco desenvolvido, mas com diversas oportunidades.
Fundada para atuar na fabricação de papel, a empresa ao longo de seus mais de 100 anos de história participou também de outros setores, os quais acabaram sendo descartados com a Klabin focando seus negócios em seu setor de origem.
Efetuando grandes investimentos para o período, a Klabin tornou-se a maior produtora de papel do país ainda na primeira metade do século XX, consolidando esta posição com a construção da Klabin do Paraná na fazenda Monte Alegre.
Mauricio , oriundo da comunidade judaica da Lituânia, chegou ao Brasil após uma rápida passagem pela Inglaterra fugindo da perseguição do czar Alexandre II na Lituânia, em 1889.
Ele chegou num país muito menos desenvolvido do que os países da Europa, porém cheio de oportunidades , em 1899 liderou a criação em São Paulo, com seus irmãos Hessel e Salomão e seu primo e cunhado Miguel Lafer, da firma Klabin Irmãos & Cia.
Esta foi a célula mater da empresa Klabin, que no correr das décadas adquiriu escala e abrangência nacional.
Patrão de si mesmo
“Klabin sempre contava que ao chegar ao Brasil, lhe haviam oferecido trabalho como operário, com o alto salário de 10 mil-réis diários. Que ele sabia, porém, que uma vez começando a ganhar, nunca teria forças para se libertar e perder um dia de salário que fosse. Preferiu viver passando quase fome e esperar subir pelas próprias forças”.
Queria mesmo ser o seu próprio patrão.
Emprego, sim, mas desde que não incompatível com seu objetivo de tornar-se empresário, empreender. Além da prestação de serviços gráficos, a empresa onde trabalhava importa e comercializa material de escritório e pertencia a um casal idoso, sem filhos.
Maurício agarra a oportunidade e brilha, não era neófito em negócios. Participara do pequeno comércio da família em Poselvja. Ajudara em tudo, inclusive na escrituração. Tentara empreender, mas fora barrado pela repressão tsarista.
Tinha tirado água das pedras das ruas e praças de Londres , comprando e vendendo de porta em porta para sobreviver. Era bom com números, escrevia corretamente, sabia comprar e vender, cativar os clientes.
Confiava em sua capacidade de trabalho, visão de futuro, intuição empresarial e percepção de oportunidades realmente boas e viáveis. Sem esses faróis, talvez nem tivesse vindo.
A criação da KIC (Klabin Irmãos e Companhia) é o marco inicial de uma das mais brilhantes trajetórias empresariais da história do Brasil.
A produção de papéis no Brasil ainda era muito incipiente. O pouco papel produzido nacionalmente era de baixa qualidade, além de depender da celulose importada. Papéis de melhor qualidade eram importados. A maquinaria para produzi-los também.
Nos anos seguintes, a empresa arrendou uma fábrica de papel em Salto de Itu e, no final da década de 1900, fundou sua primeira fábrica de papel, chamada Companhia Fabricadora de Papéis.
Em 1925, já era a fábrica com maior capacidade produtiva do Brasil, juntamente com uma das fábricas pioneiras na produção de papel no país, a Companhia Melhoramentos.
Os Klabin haviam se tornado referência no fugaz capitalismo brasileiro. Mas os anos se passaram, e as dificuldades para a produção de papel no país ainda continuavam.
Por volta de 1920, Maurício já não apresentava a mesma vontade que o impulsionara a construir tudo o que construíra desde que chegara ao Brasil.
Já não tinha mais a disposição necessária para correr os riscos que a atividade exigia. Assim, aos 60 anos, decide deixar de exercer suas funções na empresa, deixando-as a cargo de Hessel, Salomão e Miguel, para cuidar de seu patrimônio pessoal e se dedicar ao mercado imobiliário.
O precoce Wolff
Em 1898, desembarca no Brasil Wolff Zeev Kadischewitz, de sete anos, primo de Maurício Klabin, filho de sua tia paterna Feiga Zlata Lafer Kadischewitz e de Israel Heim Kadischewitz.
Imigrante lituano, o menino chegou em companhia de Max Lafer, de 16 anos, também seu primo.
Wolff aos 15 anos, já possuía alguma habilidade comercial, notada através de uma carta datada de 22 de janeiro de 1907 e enviada ao seu primo Maurício, que estava na Europa, sobre o mercado imobiliário de São Paulo .
Trechos da carta do garoto precoce de 15 anos :
Na semana passada, fui em casa de um brasileiro, em uma chácara, e ele me contou que há, no Brás, um terreno de mais ou menos 250m², que pertence à Estrada de Ferro. Eu comecei a procurar mais e achei, perto da Terceira Parada, um pedaço de terra que pertence a um banco. Este terreno vale 1 mil-réis o metro quadrado. […] Quanto ao terreno da Mooca, posso lhe escrever que o governo não trabalha muito rápido agora e, por isso, ainda não chegaram a seu terreno. Com referência à Vila Mariana, não há nenhuma novidade especial. Constrói-se, mas muito devagar. Da rua da Consolação, consegui alugar a segunda metade da chácara. Agora só faltam os 25 pequenos armazéns, mas penso que vou alugá-los em pouco tempo.