Snowballer Convida #5: Beto Saadia fala sobre como ativos arriscados não aumentam sua rentabilidade
O mercado sempre encontra formas de dar uma rasteira nas clássicas fórmulas das finanças.
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A cada edição, convidarei alguém que eu considero relevante na nossa indústria para partilhar sobre tópicos atuais e atemporais, nesta edição temos um texto do meu amigo Beto Saadia.
Beto é Economista pelo Ibmec RJ, foi broker institucional de derivativos da Citi Corretora e Banker da XP Private.
Hoje, Beto é diretor de investimentos (CIO) da Nomos, uma das investidas da XP Investimentos que atende 130 mil clientes em todas as frentes de investimentos.
“Para buscar maiores retornos deve-se assumir mais riscos.” – você ouviu do seu gerente do banco ou assessor da corretora. O conceito faz sentido, mas contra intuitivamente a evidência histórica não corrobora com a tese.
Em 1952 Harry Markowitz construiu um portfólio de ações que maximiza o retorno de uma carteira por unidade de risco.
Como risco é um conceito genérico, a indústria convenientemente definiu risco como volatilidade, muito mais fácil de medir e comparar. Volatilidade é a intensidade das oscilações num determinado período.
O que soa como música na teoria, na prática não funcionou, ou seja, comprar ações mais arriscadas não gerou maiores retornos.
Tivesse a anomalia sido observada somente numa janela curta de tempo, seria evidência fraca. Não é o caso, não só as janelas foram longas como também observadas em diferentes classes de ativos e ainda em diferentes países.
Comprar ações menos voláteis não só resultou num retorno ajustado ao risco maior como, para a maioria das observações, resultou inclusive num retorno absoluto melhor.
Essa anomalia é uma lição valiosa para o investidor. Há a tendência de nos deixarmos seduzir por ativos do tipo loteria como, por exemplo, empresas disruptivas, empresas em processo de turnaround, meme stocks, temas promissores da moda, ou seja, aquelas que você coloca pouco dinheiro com o objetivo de ganhos extraordinários e assimétricos.
Mesmo considerando os casos de sucesso em que essas empresas performaram, a estatística não é favorável.
Aos que optaram por esse tipo de risco, a história mostrou que é mais eficiente alavancar uma carteira conservadora do que construir uma carteira arrojada.
Um dos papers mais reconhecidos sobre o tema chama-se “betting against beta” de Andrea Frazzini e Lasse Pedersen que traz o contexto histórico investindo em empresas de ‘beta baixo’ como evidência dessa anomalia.
Beta baixo é como tecnicamente definimos uma ação menos volátil do que o índice que ela compõe. Por exemplo, quando o Ibovespa sobe 1%, e a ação do Bradesco sobe 0,5% dizemos que o ‘beta de Bradesco é 0,5’. Já uma ação mais volátil como Magalu tem beta de 1,5.
Sabemos que comprar 3 vezes o financeiro em Bradesco vai te entregar o mesmo risco esperado do que comprar uma unidade de Magazine Luiza (3 X 0,5 = 1,5 mesmo beta de Magalu).
Mas e quanto ao retorno? Pois é, o paper do Frazzini mostra evidência de que a primeira opção é melhor.
A estratégia pode ser construída aumentando a exposição da carteira ou mesmo alavancando.
Nas corretoras brasileiras, a alavancagem não é sempre disponível e barata, tendo por vezes buscar as operações a termo ou outros derivativos, tão ineficientes quanto caras.
Mas o conceito funciona bem nas corretoras gringas em que o investidor pode ficar negativo em conta corrente pagando juros muito baixos que patamares brasucas.
O motivo dessa anomalia da baixa volatilidade é objeto de debate, mas vou deixar aqui os dois mais citados:
O primeiro deles é o viés que fundos institucionais tem em assumir mais risco. Por serem proibidos de utilizar de instrumentos de alavancagem, a opção por aumentar risco se limita aos ativos arriscados deixando-os mais caros.
O segundo motivo é comportamental. Vem do nosso viés em sobrevalorizar ativos do tipo ‘loteria’. Nos deixamos seduzir por retornos assimétricos – de baixa probabilidade e alto impacto. Atribuímos maior probabilidade de sucesso nessas ações do que a realidade, tornando essas ações caras.
A estratégia de investir em empresas de baixa volatilidade é apelidada de BAB (betting against beta) e assume diferentes formas.
A gestora AQR, do polêmico Cliff Asness, adota o BAB nos seus fundos de investimentos por fatores (Factor Investing) comprando ações de baixo beta e vendendo ações de alto beta.
Ou ainda, Warren Buffett, surfou o BAB durante toda vida, intencionalmente ou não. Pelo menos foi isso que o paper “Buffett´s Alpha” atribuiu quando debulhou quantitativamente todo o histórico do mago.
O sucesso da Berkshire vem da estratégia de baixo beta alavancado. As ações que compõem sua carteira têm beta abaixo de 1.
E sua alavancagem é de 1,7 vezes. Reforçando que a alavancagem da Berkshire é bem menos explicita do que estamos acostumados.
A alavancagem utilizada por Buffett é o float de seguros. As companhias de seguro coletam prêmios antecipadamente e pagam os sinistros depois.
Isso cria um pool de dinheiro, o "float", que pode ser investido antes que os sinistros precisem ser pagos.
Como a Berkshire Hathaway possui várias companhias de seguro, incluindo a Geico, ela controla um enorme float. Esse float atua como um empréstimo sem juros que Buffett pode investir.
O mercado está sempre encontrando forma de dar uma rasteira nas clássicas fórmulas das finanças.
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Muito interessante!