Snowballer Convida #3: João Ascoli fala sobre investir na China.
A China poderá até crescer esse ano, mas é improvável que alcance os 5% da meta com o nível atual de investimento.
Ei amigos e amigas! Esta é uma edição extra para assinantes desta newsletter, projetada para torná-lo um melhor investidor. Os membros têm acesso às estratégias, táticas e sabedoria de investidores e fundadores excepcionais.
A cada edição, convidarei alguém que eu considero relevante na nossa indústria para partilhar sobre tópicos atuais e atemporais, nesta edição vos trago um texto de João Ascoli, experiente trader, formado pela FHNW/Basel-Suíça, trabalhou em mesas de câmbio e commodities.
Ele possui vasta experiência no mercado asiático, morou durante muito tempo na China e foi sócio responsável pela impementação e operação de uma Trading Company. Atualmente dedica-se a gestão de um Family Office.
Vamos ao texto….
Devo iniciar com um ponto que, após anos de experiência no mercado asiático, acredito ser essencial: JAMAIS analise variáveis orientais, principalmente chinesas, sob o ponto de vista ocidental.
Países, pessoas e culturas são diferentes, não existem razões para que os mercados sigam outro formato.
Hoje, em março de 2024, enquanto escrevo este texto, pairam dúvidas quanto ao crescimento da China, reflexos nos mercados globais e possíveis riscos; muitos perguntam a respeito das consequências para ativos locais e globais, até possíveis riscos de cauda.
Não acredito em um cenário extremo; embora desafiador, é um momento de transição de modelo, onde variáveis antigas perdem importância e são substituídas por outras, refletindo-se nos preços dos ativos relacionados.
O modelo de crescimento, focado em investimentos no mercado imobiliário e infraestrutura, esgotou.
A situação já demonstrava sinais de esgotamento há anos, mas a transição para um novo foco, por diversas vezes, foi postergada por parte de Beijing.
Os investimentos do governo central, ao longo dos anos, começaram a obter retornos cada vez menores, um crescimento nada sustentável no longo prazo.
Trocavam-se números de curto prazo por desafios, cada vez maiores, no longo prazo.
Os sinais de que a China estava aceitando um novo formato começaram em 2023, com um governo cada vez mais reticente nos investimentos em infraestrutura.
Beijing só “entrou em campo” quando percebeu que não seria possível entregar os 5% de crescimento, mesmo com uma base fraca de 2022.
O cenário desse ano é parecido, investimentos cada vez menores, diversos projetos sendo cancelados e mudança de foco para outras áreas.
Um ponto importante e que poderá afetar ativos brasileiros: esse ano eles também almejam um crescimento de 5%.
Acredito que o cenário seja mais desafiador do que em 2023: o efeito base é pior, não existe rebound pós-pandemia e o consumo interno segue péssimo.
A China poderá até crescer esse ano, mas é improvável que alcance os 5% da meta com o nível atual de investimento.
Essa é a principal incógnita do ano: aceitar um crescimento menor, com maior qualidade, ou seguir com resquícios do modelo antigo?
Aqui entra-se em uma questão cultural, não entregar a meta de crescimento seria um choque, ainda maior, para o consumidor interno.
Os desafios dos próximos anos são dois: geopolítica e protecionismo.
O país conseguiu desenvolver um parque industrial invejável, competindo em praticamente todas as áreas; evoluiu na escala da complexidade industrial, algo para poucos, e possui vantagens de custos.
Com um mercado interno sem confiança e, culturalmente, poupador, a matriz exportadora sempre foi importante.
A exportação da China é a importação de outro país; com o aumento da complexidade, passou-se a competir com players globais importantes e que não estavam acostumados com essa concorrência nos seus mercados.
Praticamente um chamado ao protecionismo. A questão geopolítica reflete uma tendência dos últimos anos, países buscando proteger suas cadeias produtivas e vantagens construídas ao longo dos anos.
Fala-se muito em um possível aumento de consumo local, mas não acredito nessa solução. A estrutura do país não fornece incentivos para o consumo; poupa-se muito, uma questão cultural, para evitar problemas em um país com baixo nível de serviços sociais.
Em determinados pontos, a estrutura de serviços básicos do Brasil, muito criticada por aqui, consegue ser superior à chinesa.
Acredito que existirão mudanças quanto aos incentivos para a demanda local, mas é impossível precificar o timing dessas mudanças.
Voltando ao início do texto, onde falo da importância de enxergar a China sem viés ocidental, é preciso destacar que, especialmente em prazos curtos, a dinâmica não é nada exata.
Querendo ou não, estamos falando de um país com um governo central; pode-se tomar a decisão que quiser, situação até comum, mesmo sendo considerado algo fora dos padrões ocidentais.
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É isso por hoje!
Mais uma vez obrigado por ler.
Abraço,
Snowballer
PS: “DMs are open”: Twitter
Ótimo texto, deu para compreender muito bem o que está por trás da "desaceleração" da economia chinesa