Sarah Ketterer e o segredo de investir em empresas desconhecidas.
Nos últimos 15 anos, as ações americanas dominaram o mercado mundial, com o S&P 500 subindo quase cinco vezes desde 2009.
Já o mercado europeu, coitado, ficou só olhando, com o Euronext 100 ganhando uns 145%, ou 6,3% ao ano.
Mas Sarah Ketterer, a gestora da Causeway Capital Management, acha que a maré tá virando para as ações internacionais.
A Causeway Capital, uma firma de Los Angeles que cuida de uns US$ 50 bilhões (nada mal, hein?), está dando um banho nos concorrentes com uma misturinha de análises quantitativas e fundamentais para encontrar empresas muito baratas .
E, olha, tá dando certo! A estratégia de valor internacional da Causeway gerou um retorno anualizado de 17,6% nos últimos três anos, deixando o índice MSCI EAFE comendo poeira por oito pontos percentuais.
Ketterer atribui o sucesso da Causeway a investir em empresas que ninguém dá muita bola, em mercados que o pessoal esquece de olhar.
“O legal de investir fora dos EUA é achar empresas que ninguém conhece direito, listadas em mercados que todo mundo tá ignorando,” ela diz.
Um dos maiores acertos da Causeway no último ano foi o banco italiano UniCredit.
Depois que os reguladores europeus botaram a banca de que não podia pagar dividendo nem recomprar ação durante a pandemia, as ações do UniCredit desabaram.
Mas o Conor Muldoon, o analista que cuida do setor financeiro da Causeway, viu uma chance no meio do caos.
Agora que as restrições acabaram, o UniCredit voltou com os dividendos e já recomprou uns US$ 2,6 bilhões em ações. E adivinha? As ações subiram 64% só em 2023 e 160% desde setembro do ano passado.
“É aí que o mercado fora dos EUA te dá um presentão,” explica Ketterer.
“Os bancos americanos ainda tão caros pra caramba, enquanto muitos dos grandões europeus tão sendo vendidos a preço de banana, tipo 30% ou 40% do valor patrimonial tangível. Quem resiste?”
O segredo da Causeway começa com uma peneirada em mais de 3.000 ações de empresas com valor de mercado acima de US$ 1 bilhão.
Os quants da Causeway (a turma que mexe com números até a exaustão) caçam ações com rendimento de lucro legal, baixo preço sobre fluxo de caixa, e múltiplos atraentes de valor de empresa sobre EBITDA.
Aí, o que passa por esse filtro vai pro analista de research, onde é feita uma análise detalhada, com direito a meta de preço pra dois anos que é revisada a cada trimestre.
Depois, eles ainda jogam tudo num modelinho de risco, ranqueiam as ações por retorno ajustado ao risco, e voilá: fica claro quem vai ter mais peso na carteira e quem vai rodar.
As Queridinhas da Causeway
Até 30 de junho, as maiores apostas da Causeway incluíam nomes famosos como Rolls-Royce Holdings, Samsung Electronics, UniCredit, Enel e Roche Holding.
É uma mistura de tudo um pouco: motor de avião, chips, banco, energia, e farmácia. Basicamente, o que tem de bom no mercado, rs.
A Causeway tem um dom especial pra aproveitar as crises do mercado.
Quando a pandemia começou, em 2020, eles saíram às compras, focando em ações de turismo e lazer que estavam lá embaixo.
Uma dessas foi a Ryanair, a famosa companhia aérea barata lá de Dublin.
Mesmo com o lockdown, os analistas da Causeway sabiam que a Ryanair tinha fôlego pra segurar a bronca. E quando as ações caíram de novo com a guerra na Ucrânia, eles voltaram pras compras e garantiram um ganho de 33% só esse ano. Tá ruim?
A maior aposta da Causeway hoje é a Rolls-Royce Holdings, uma empresa de Londres que faz motores pra aviões civis e militares (nada a ver com os carrões de luxo, que venderam pra BMW em 1998).
A Causeway começou a investir nela em 2018, quando a empresa tava enrolada com uns problemas nos motores Trent 1000.
Em determinado momento, eles chegaram a ter 12% da empresa. Além disso, ajudaram a trocar a chefia, colocando uma nova presidente em 2021 e um CEO novo em 2022.
Desde então, a Rolls-Royce deu um jeito nos preços, melhorou a confiabilidade, e cortou os custos de reparo. Resultado: a receita do primeiro semestre deste ano cresceu 31% e o lucro operacional subiu cinco vezes. As ações? Subiram 134% este ano.
Ser meio “ativista” não é novidade para a Causeway, especialmente nas grandes apostas.
Ketterer destaca que os times de gestão em empresas de fora dos EUA estão começando a se alinhar mais com os acionistas, graças a mudanças culturais e novos pacotes de remuneração.
“A gente não vai lá gerir a empresa, mas sabe o que é uma boa gestão e o que é execução eficiente em termos de crescimento de lucro,” diz Ketterer. “Se um gestor de investimentos não faz demandas e não segura o pé da gestão da empresa pra alcançar esses objetivos, então é melhor só investir passivamente.”
Com uma mistura de análise quantitativa e fundamental, e sem medo de se meter no que as empresas estão fazendo, a Causeway Capital tá conseguindo descobrir oportunidades que ninguém mais vê.
E com o jeito meio contra a maré da Ketterer, parece que essa aposta tá valendo muito a pena.
Ps: vou deixar aqui o vídeo que acabou de sair dela com o David Rubenstein.