O labubu é único.
Em 26 de março, a Pop Mart divulgou seu relatório financeiro de 2024, registrando uma receita anual de 13,04 bilhões de yuans — ultrapassando pela primeira vez a marca dos 10 bilhões e representando um crescimento de 106,9% em relação ao ano anterior.
Na conferência de resultados, Wang Ning, presidente e CEO da Pop Mart, afirmou que o desempenho da empresa em 2024 superou as expectativas e que continuará a expandir-se nos mercados internacionais, adotando uma estratégia centrada em propriedade intelectual (IP).
O que levou a Pop Mart a se transformar de uma loja física de artigos descolados em uma empresa listada de brinquedos colecionáveis?
No livro "Porque É Único", o repórter de negócios Li Xiang entrevistou Wang Ning, fundador da Pop Mart, traçando o processo de desenvolvimento da empresa e revelando suas ideias empreendedoras e percepções sobre a indústria de brinquedos colecionáveis na China.
A nossa news publica trechos do livro para o benefício dos leitores.
Quem é Wang Ning?
Essa pergunta surgiu na cabeça de muitos investidores até 2020, quando ele chamou atenção de todos com uma estreia impressionante.
Wang Ning tinha 33 anos naquele ano, e a empresa que fundou, a Pop Mart (Bubble Mart em chinês), foi listada em Hong Kong em 11 de dezembro, com um valor de mercado superior a 100 bilhões de dólares de Hong Kong, tornando-se uma das histórias mais celebradas da nova onda de empreendedorismo de consumo em 2020 e 2021.
A resposta simples é que ele é um jovem empreendedor chinês nascido em 1987, fundador da Pop Mart em 2010, hoje uma das líderes no mercado de brinquedos colecionáveis.
Entre os IPs mais populares da empresa estão MOLLY, SKULLPANDA e LABUBU — nomes talvez desconhecidos para quem está fora do setor, mas estrelas absolutas entre os colecionadores.
Alguns modelos chegam a ser vendidos por preços altos no mercado de segunda mão. Não há dados exatos sobre quantos fãs existem, mas até 30 de junho de 2023, a Pop Mart já havia registrado mais de 30 milhões de membros na China continental.
Apesar da juventude, Wang Ning é um empreendedor experiente. Sempre inquieto, fundou uma escolinha de futebol em sua cidade natal, Xinxiang, durante as férias de verão antes de entrar na faculdade — mesmo sem ter campo ou escritório, distribuiu panfletos e conseguiu recrutar dezenas de alunos.
Durante a universidade, criou o estúdio Days Studio, que gravava documentários sobre a vida universitária e vendia cópias em DVD para os colegas. Liu Ran, hoje diretora executiva da Pop Mart, entrou no estúdio como caloura e passou a trabalhar com ele na produção desses materiais.
Em 2008, Wang descobriu o modelo de "loja colmeia": alugou uma loja inteira, dividiu em pequenas unidades e sublocou a pequenos vendedores.
Assim surgiu a Lattice Street, primeira loja física que gerenciou junto com colegas de faculdade. Mais tarde, com o dinheiro da venda dessa loja (mais de 200 mil yuans), abriu a primeira unidade da Pop Mart em Pequim.
Embora suas ideias não sejam tão grandiosas quanto as do Vale do Silício, como "colocar um computador em cada mesa" ou "transformar a humanidade em uma espécie multiplanetária", Wang tem uma habilidade aguçada para enxergar demandas reais de mercado — e coragem para agir sobre elas.
Essa sensibilidade aliada à flexibilidade foi essencial para a criação da Pop Mart. O próprio Wang resume bem: a empresa deveria fazer A, acabou fazendo B, de repente deu certo com C, e pode se tornar extraordinária com D.
Ou seja, para ele, empreender é um processo de mudança contínua.
Essa mentalidade se reflete também no modo como ele lidera: é capaz de reconhecer erros rapidamente, sem se apegar a custos irrecuperáveis — característica reconhecida por vários colegas.As três fases da Pop Mart
Segundo Si De, COO da empresa e colega de MBA de Wang Ning na Universidade de Pequim, o desenvolvimento da Pop Mart pode ser dividido em três fases:
1. Loja de artigos descolados:
Inspirada na LOG-ON, uma loja de departamentos de Hong Kong, a Pop Mart começou revendendo produtos em lojas físicas próprias. Em 2015, um boneco chamado Sonny Angel passou a representar 1/3 das vendas de uma loja. Foi o primeiro sinal de que os brinquedos colecionáveis podiam ser um caminho.
No entanto, a dependência da marca japonesa Dreams, dona do Sonny Angel, gerava frustração. A cada nova loja, era necessário pedir autorização para vendê-lo. Recusaram pedidos para expansão de licença, edições especiais e até mesmo a participação em feiras da Pop Mart.
Como no livro Shoe Dog, autobiografia do fundador da Nike, que começou como revendedor da japonesa Onitsuka Tiger e acabou criando sua própria marca, Wang também percebeu que precisava trilhar seu próprio caminho.
2. Transição para empresa de brinquedos colecionáveis:
Em janeiro de 2016, Wang postou no Weibo: “Além de Sonny Angel, o que mais você gosta de colecionar?” Com base nas respostas, a equipe da Pop Mart procurou os criadores mencionados — entre eles, Kenny Wong, autor de MOLLY.
Em julho, lançaram o primeiro MOLLY Zodiac Series, que se tornaria o IP mais famoso da empresa.
Dali em diante, a Pop Mart passou a contratar artistas, criar estúdios internos, adquirir licenças de IPs e desenvolver brinquedos.
Também firmaram parcerias com marcas como Disney e Harry Potter. A empresa transformou-se em uma plataforma de comercialização de IPs, dominando produção e canais de distribuição.
O fenômeno das "blind boxes" (caixas surpresa com brinquedos) despertou críticas: por que alguém compraria algo sem saber o que está dentro?
Por que pagar caro por um item sem função prática? Mesmo sem poder controlar esse tipo de especulação, a Pop Mart foi questionada por parte da opinião pública.
3. Globalização e expansão do IP:
Após o IPO em 2020, vieram novas dúvidas: os IPs da Pop Mart se manteriam relevantes? A empresa estava supervalorizada? Ainda assim, o capital seguiu atento. Concorrentes começaram a se instalar perto da sede em Pequim para tentar atrair seus funcionários.
Na visão de Wang Ning, a Pop Mart ajudou a construir a indústria de brinquedos colecionáveis na China, tornando-se referência do setor.
Agora, a terceira fase visa a globalização e o aprofundamento da estratégia IP.
A empresa já abriu 80 lojas e 159 vending machines fora da China continental até 2023. Também iniciou a construção de um parque temático em Pequim — o Pop Mart City Park, com 40 mil m², uma fração do tamanho da Disneyland ou da Universal Studios, mas um passo importante.
Além disso, a empresa criou um estúdio próprio para desenvolver animações e games. O objetivo: transformar-se em uma empresa global de gestão de IPs, nos moldes da Disney — ainda que reconheça que há um longo caminho até lá.