Mandi Ventures: Os Novos Reis do Agro
Construir um negócio, não é um sprint, é uma maratona.
Há dois mundos no negócio de investimentos, há o mundo dos investidores apressados que buscam todo e qualquer deal, e o mundo dos investidores pacientes, aqueles mais silenciosos, que esperam a hora certa de agir, hoje vamos falar de uma firma que se enquadra muito bem nesse segundo leque: a Mandi Ventures
Na Mandi o foco está em investimentos em startups de alimento e agricultura num estágio bem inicial e o momento sempre foi de muita cautela. Cerca de 70% dos US$ 30 milhões captados em 2020 para empresas no Brasil e exterior ainda não foram investidos.
“Ainda tem muita gente lá fora com água até o pescoço. A Mandi não vai deixar de ser diligente. Aqui somos cautelosos e realistas”, afirma Antonio Moreira Salles, um dos sócios da gestora.
A Mandi não faz investimento a qualquer custo, a gestora acredita que os setores de alimentos e agronegócio têm espaço para empresas disruptivas.
No Brasil, a Mandi fez aporte na empresa de crédito agrícola Tarken e na GrowinCo. No exterior, está investida na francesa Mium LAB (de balas gelatinosas voltadas para saúde), na americana Farmers Business Network e na inglesa Multus. Mais adiante eu explico melhor alguns desses cases.
Eles querem revolucionar o seu prato
A tese de investimentos da Mandi se baseia em toda a cadeia de produção de alimentos, os primeiros investimentos do fundo no Brasil refletem isso, a Tarken nasceu com a proposta de ser um marketplace para compra e venda de grãos, hoje depois de um pivot, ela se especializa no crédito rural💵.
O sistema da startup é baseado em inteligência artificial e machine learning🤖, utilizando dados públicos e privados para gerar um score de crédito para cada produtor rural.
O público-alvo da startup é o mercado de distribuição de insumos (sobretudo revendas e indústrias) que gira por ano na casa de R$ 1,8 trilhão no custeio de insumos, nas contas de Luiz Tangari, CEO da startup.
Deste total, portanto, 6,5% (R$ 120 bilhões) já passa pela plataforma e a meta para 2024 é chegar a 18%.
A plataforma da Tarken hoje é constituída de cinco módulos.
No Workflow, que fechou o 2023 com 60 clientes, se dá toda a integração do fluxo de trabalho na ponta.
Da ficha cadastral do produtor, passando pela aprovação de crédito até o recebimento, o fluxo acontece ali. Por este módulo, segundo Tangari, também é possível fazer consultas de rating e compliance ESG.
Enquanto a ideia do rating é atribuir uma nota aos clientes para aprovação automática de limite de crédito, a ferramenta ESG faz a checagem automática de listas de restrições, seja de embargos, débitos ou desmatamento.
O Inspector é outro módulo da Tarken, e atualmente o carro-chefe em uso pelos clientes. Seu papel é dar o diagnóstico geral da saúde financeira dos produtores das revendas mediante consulta de CPF ou CNPJ.
Essas consultas chegaram a 60 mil no último ano, tendo suportado as vendas de mais de 200 distribuidores.
A empresa ainda tem 40% do seu funding original em caixa e conseguiu atingir o break-even.
“Somos orgulhosos de ser eficientes com capital aqui e nossos investidores valorizam isso também. Viramos janeiro de 2024 crescendo 25% ao mês e espero manter esse ritmo durante todo o ano”- diz o CEO.
FBN
Outro investimento conhecido do fundo foi na Farmers Business Network (FBN), uma empresa americana que entrou no Brasil com a ajuda da Mandi.
Charles Baron e Amol Deshpande, ambos com laços estreitos com o setor agrícola e com formação em tecnologia e capital de risco, reuniram-se no Vale do Silício em 2013 e decidiram criar uma plataforma que reequilibrasse o poder de negociação entre empresas de insumos e agricultores.
A FBN criou um ecossistema com várias soluções para o fazendeiro, da análise de dados das plantações até uma plataforma de venda de insumos, passando por uma vertical de produtos financeiros.
A startup foi avaliada em US$ 4 bilhões na sua última rodada privada. Até o momento, a empresa arrecadou mais de US$ 900 milhões de empresas como Kleiner Perkins, Google Ventures, Temasek e outras.
Recentemente circulou um boato pela indústria agroalimentar de que a FBN levantou uma rodada de baixa, embora a empresa se recuse a comentar.
Mais de 84% da área cultivada nos EUA e 97% no Canadá estão a 400 quilômetros de um centro logístico da Farmers Business Network.
Composto por 32 centros de atendimento nos EUA e três no Canadá – a agtech é única em sua capacidade de entregar suprimentos agrícolas, que geralmente são pedidos em abundância, em questão de dias.
Carne cultivada?
Um famoso investimento da Mandi foi na Multus, a empresa foi fundada há pouco mais de três anos por quatro estudantes dos departamentos de Ciências da Vida e Bioengenharia, do Imperial College London.
Os quatro alunos por trás da Multus – Cai Linton, Kevin Pan, Reka Tron e Brandon Ma – começaram fazendo uma pergunta simples sobre carne cultivada.
A ciência para a sua produção está comprovada e os benefícios para as alterações climáticas e o bem-estar animal são indiscutíveis, então porque não podemos ir ao supermercado e comprar esse produto?
Uma resposta foi que o soro sanguíneo normalmente usado como meio de crescimento estava totalmente errado:
Em primeiro lugar, é caro fazer esse soro, tendo sido fabricado de acordo com os padrões exigentes exigidos pela investigação biofarmacêutica e biomédica.
E em segundo lugar, é geralmente derivado de animais, o que mina as aspirações livres de animais da indústria da carne cultivada.
Assim, eles decidiram agilizar o processo de produção do soro e explorar formas mais eficientes de fornecer nutrição celular usando ingredientes vegetais.
Seu objetivo foi desenvolver um meio de crescimento substituto que fosse livre de animais, barato e possível de ser produzido em grandes quantidades.
O primeiro produto da empresa foi projetado para uso em pesquisa e não para produção comercial de carne. O Proliferum M é vendido principalmente para empresas em estágio inicial que realizam muita pesquisa e desenvolvimento.
O financiamento arrecadado pela startup apoiará a empresa no desenvolvimento de produtos de acompanhamento para a produção comercial de carne.
A Multus não fabrica produtos finais, como hambúrgueres ou bifes à base de células. Em vez disso, a start-up concentra-se nos “ingredientes-chave” responsáveis pela “expansão do acesso ao produto final”
“Nosso objetivo é ter meios de crescimento para galinhas, vacas e porcos que possam ajudar as empresas a colocar produtos no mercado. Isso significa que temos que expandir internamente, atrair clientes maiores, obter aprovação regulatória e de padrões e ter nossas instalações de produção em operação.”
O Uber da indústria
O último investimento da Mandi foi na GrowinCo, imagina que uma fábrica está com capacidade ociosa em uma de suas linhas de produção. Por outro lado, uma marca precisa terceirizar a sua manufatura.
É nesse contexto que surge a GrowinCo, criada em 2019 para ser um marketplace e conectar esses dois negócios.
Normalmente, uma multinacional que precisa lançar um produto novo – sem ter capacidade fabril – tem que contactar as fábricas uma a uma para saber qual está ociosa e depois contratá-la.
“E essas grandes empresas sempre têm um padrão de qualidade muito alto, então não é qualquer fábrica que passa no filtro delas,” Raphael Traticoski o co-fundador da empresa disse em entrevista ao Brazil Journal.
Com este processo, o tempo médio para colocar um produto novo na gôndola — o chamado speed to market — gira em torno de 20 meses.
Mas ao conectar as duas pontas e entregar uma plataforma que concentra os dados de todos os prestadores, a GrowinCo diz que reduziu esse prazo pela metade.
A startup já tem 86 mil indústrias cadastradas na plataforma, entre clientes e terceirizados. A lista de clientes inclui multinacionais como a Mondelez, Kellogg’s e Natura&Co.
A principal forma de remuneração da empresa é por meio de anuidade para usar a plataforma. As empresas que vão buscar linhas de produção precisam pagar. Há também uma modalidade de porcentagem na venda para algumas indústrias ociosas.
Hoje, cerca de 70% da receita vem de fora do Brasil, com os Estados Unidos representando 30%, o México, 8%, e o restante pulverizado entre diversos países.
Um fundo bem fora da norma
Levou quase um ano, para que o primeiro investimento da Mandi Ventures fosse feito.
Mais de 300 empresas passaram pelo escrutínio dos sócios e conselheiros.
“A gente estuda a empresa e o mercado. Se não entende, não entra”, resume Salles. “Tomamos muito mais tempo para decidir que um fundo de VC (venture capital) tradicional”.
O foco é em empresas com produtos que possam ser aplicados em escala global.
A seletividade demonstrada na escolha das investidas se aplica também à entrada de recursos no fundo.
“Buscamos levantar dinheiro com gente que conhece o setor e suas características”.
“Acreditamos que, assim, podemos trazer muito valor para as startups. Mais do que cobrar resultados no curto prazo, imaginamos que, como investidores, podemos trabalhar para que elas prosperem”.
Se possível, à moda mineira, sem pressa e em silêncio.
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